terça-feira, 10 de julho de 2012

Questão de Bom Senso

Pensei que fosse minha.
Vi tanta pureza em seu olhar, como se desnudasse o meu ser, ao me observar.
                Achei que quisesse realmente desvendar o melhor de mim... Achei que quisesse descobrir os meus pontos fracos e fazer com que eu abaixasse a guarda... Achei que queria mesmo me conquistar.
                Mas não foi bem assim... Buscou me conhecer, para saber como deveria agir comigo.
                Queria me usar, fazer de mim um brinquedinho ou um bichinho de estimação, tipo aquele que, ao estalar o dedo vem correndo... Queria o domínio sobre os meus sentimentos.
                Que maldade... Que crueldade usar de artifícios, que podem até mesmo destruir o ser humano.
                Eu sei que, a sua melhor amiga havia lhe pedido para não fazer isto comigo... Sua melhor amiga a preveniu que iria me alertar, sobre este lado negro em seu ser... E assim ela o fez.
                Passei a prestar atenção nas suas dissimuladas atitudes, tão despretensiosas, ocultando o seu verdadeiro intuito.
                Resolvi jogar contigo e fui fazendo exatamente o que você queria... Fiquei a sua mercê, a mercê das suas vontades.
                Descobri então, o quão grande era o seu egoísmo, a sua luxúria, o seu materialismo.
Como se nada quisesse, entrava em joalherias, nas lojas onde houvesse roupas de grife e em perfumarias e acabei por comprar um perfume pra mim e outro para ela e voltei para casa com os pensamentos fervilhando.
Já em casa, olhei-me no espelho e comecei a refletir.
                A calvície eminente, as rugas presentes, a idade avançada... Tolo... Um velho tolo... Um velho com dinheiro que achava ser ainda um conquistador... Um velho ridículo com sonhos juvenis.
                Sessenta e cinco anos, em perfeito estado de saúde, porém, o tempo não deixa duvidas sobre a sua existência... O tempo é cruel, ele marca, ele agride, ele nos deteriora.
                Tempo... O Mestre Implacável da decadência.     
                O que eu pensei ao me deixar envolver, por uma jovem, com menos da metade da minha idade ??? O que eu esperava encontrar de verdadeiro ??? O que eu pretendia desfilando, com uma linda menina que tinha a idade da minha filha ???.
                Resolvi sair novamente, troquei de roupa e fui dar uma volta... Sentado no banco da praça, fiquei a observar jovens casais com seus sonhos, casais maduros com seus filhos e casais mais vividos...
                Compatibilidade de idades... Os casais mais velhos que desfilavam felizes de mãos dadas tinham idades semelhantes... Quando eu tinha a minha companheira, ela era mais nova quatro anos e mesmo assim, se foi antes de mim.
                Cinco anos remoendo a solidão, até encontrar esta jovem que queria me fazer de bobo, mas, eu fui um idiota mesmo !!!. Tanta experiência de vida e me deixei levar pelos sentimentos.
                Ainda angustiado, peguei o carro esticando o passeio... A tristeza em meu peito deixava-me acabrunhado e taciturno e eu detestava encontrar-me neste estado.
                Dirigindo sem rumo, o som ligado, quando de repente me veio a mente uma brincadeira entre amigos... Eles haviam falado sobre o baile da terceira idade... Parei o carro e liguei perguntando pra eles, o endereço destes locais e fui conhecer o ambiente.
                Logo na entrada, notei vários homens e mulheres emanando energia, com o sorriso estampado no rosto e todos eles elegantemente vestidos... Parecia que iam a uma festa.
                Entrei e sentei-me a uma mesa pedindo um whisky e fiquei observando... Baile da terceira idade onde estavam presentes, homens e mulheres desde os quarenta anos até aquelas pessoas de idade indefinida.
                Ambiente requintado e agradável... Musicas variada de muito bom gosto e mulheres maduras, cheirosas e esperançosas... Esperançosas ???  E eu ??? Eu estava ali buscando exatamente o quê ???
                Foi quando notei em uma mesa próxima, duas elegantes senhoras me fitando... Senti o rubor na face, me senti envergonhado... Fui pego de surpresa.
                Comecei a rir da minha infantilidade, esquecendo o desconforto que havia passado durante o dia.
                Disfarçadamente, olhei em volta e vi que elas olhavam para mim... Respirei fundo, ajeitei o paletó e fui até elas.
                Ao me aproximar, a morena já puxou uma cadeira e me dirigiu a palavra.
                - Sente-se novato, faça companhia a duas jovens meninas solitárias.
                Seu sorriso cativante fez com que eu sorrisse ao me sentar.
                - É tão latente em minha fisionomia que sou novato ??? Porque acha que sou novato ??? Muito prazer, meu nome é Alberto !!!
                - É um prazer novato de nome Alberto... Eu sou Joana e esta criança que me acompanha é a Elza.
                Não tinha como não rir... Joana demonstrava um senso de humor contagiante... A criança que ela se referia, teria aproximadamente cinquenta e cinco anos.
                Cumprimentei a criança em questão e rindo ela começou a falar porque tinha certeza de eu ser novato.
                As conversas pulavam de um assunto para outro em uma velocidade incrível... Risadas seguidas de risadas, pois, Joana satirizava a tudo e a todos, sendo impossível não delirar com suas observações alegres, maldosas e mesmo aquelas de duplo sentido... Assim as horas voaram e o dia começava amanhecer quando, foi anunciado o fechamento do recinto.
                Há muito tempo não ria tanto... Há muito tempo, não me sentia tão solto desde o falecimento da minha esposa.
                Trocamos telefones, junto a minha promessa de retornar no dia seguinte ou no sábado, pois, o salão funcionava de quinta a sábado... Ofereci carona, porém, elas estavam de carro... Acompanhei-as até a porta onde recebi um gostoso abraço de ambas e mais uma vez insistiram para que voltássemos a nos encontrar.
                Na volta, passei pela padaria e tomei um café da manhã reforçado... Havia tentado dar uns passos de dança, mas, estava enferrujado demais, mesmo assim, senti o cansaço nas pernas.
                Agora em casa, deitado, pensando e relembrando de cada detalhe, entretanto, a vontade era de que a noite chegasse, para eu telefonar a elas... Ao pensar em Joana e seu humor, senti que adoraria poder sempre contar com tão agradável companhia.
                Procurei pensar na minha jovem aproveitadora e comparar com a Joana.
                A minha jovem namorada queria tudo, tudo e mais um pouco... Joana queria rir, brincar, dançar e conversar... Como Joana mesmo havia dito.
                - A melhor coisa da vida é estarmos com quem queremos, para afastarmos o fantasma da solidão.
                Como diz o velho ditado... Para cada pé cansado, sempre há um sapato velho que se encaixa perfeitamente.
                Sorrindo... Ansioso para que a noite chegasse... Esperançoso, adormeci...CMRS.

   
Lembrando que; Um comentário é o que nos motiva sempre a crescer e a me esmerar. Encante-me  com seu comentário ou sua critica ou mesmo coloque a pontuação embaixo de cada poesia... Grato Carlos Magno.
            
               

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